sábado, 19 de junho de 2010

Cafuné

Eu me lembro como se fosse ontem. E talvez tenha sido, talvez essa sensação de o tempo não ter passado seja porque ele não passou. Talvez já faça tempo e ainda assim eu vivo como se fosse ontem. Como se fosse hoje. É confortável ter você em um passado tão próximo, mesmo que seja distante.

Você ao meu lado, seu sorriso tão perto de mim. O silêncio e a chance de te observar de perto. Cada detalhe, confesso, meus olhos atentos à cada detalhe seu. E sonhando acordada, eu me imaginei ali, minha mão em seus cabelos e eu te oferecendo, discaradamente, um cafuné que você nem me pediu.

Mas eu sabia que não poderia, que você, naquele momento, não entenderia. E eu não podia arriscar aquele momento, não daquela forma. Mas ainda assim eu me lembro, como se fosse ontem, de te olhar de perto e da vontade quase incontrolável de te oferecer um cafuné.

E quem sabe, um dia, eu possa fazer esse cafuné, sem que eu te ofereça, sem que você me peça, apenas o momento acontecendo como um dia eu sonhei acordada de vê-lo acontecer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Carta à minha irmã mais nova

Gostaria de começar te pedindo desculpas, talvez esse pedido seja mais para calar minha consciência do que realmente fazer com que você me desculpe. Nos últimos anos (sim, anos) minha consciência pesa sempre que considero minhas atitudes em relação à você.

Me sinto negligente, ausente, me sinto culpada. Como irmã mais velha enxergo grande parte do que represento, e também do que deveria representar, para você. E pensando nisso é impossível não pensar em meus erros, no quanto eu queria ser melhor, não só por mim, mas por você e para você. A vontade de compensar em você a sensação que eu sempre tive pela falta de uma irmã mais velha para me ensinar tudo, ser meu exemplo e me ajudar a crescer.

E por mais que eu queira, todos esses anos, ser tudo isso para você eu me vejo falhando. E a cada palavra doce de como eu sou "a melhor irmã mais velha do mundo" eu me sinto, na verdade, "a pior irmã mais velha do mundo". Tenho medo que minha falta de comprometimento com você torne você alguém um "nível abaixo" do que você poderia ser se eu fosse, realmente, tudo que você enxerga.

Nas minhas lembranças você é, ainda, a menina de 11 anos que chorou no meu último dia no mesmo colégio. Que compartilhou comigo seus presentes vindos do Japão. Para mim você é aquela menininha. E tem sido difícil e estranho aceitar que você não é mais (só) aquela menina. Entender que aos poucos nossos assuntos vão se tornando mais parecidos e a diferença de idade menor.

E eu quero muito fazer parte desse crescimento, desse desenvolvimento, mesmo estando longe, ausente fisicamente. Penso em você muito mais do que conversamos e queria que isso fosse o suficiente, mesmo sabendo que não é.

Minhas vontades incluem ser realmente a irmã mais velha que vai ouvir seus problemas e te ajudar a solucioná-los, quem vai te ver entrar em uma faculdade pública em um futuro muito próximo e chorar de orgulho ao ver seu nome na lista dos aprovados por saber que você está se tornando alguém melhor do que eu sou. Eu quero isso. Quero ver você desenvolvendo todo o potencial que eu enxergo em você desde seus 11 anos.

Eu gostaria de te privar de muitas coisas que eu passei, mas querendo ver você crescer, amadurecer, sei que muitas delas você terá que enfrentar e eu espero ser capaz de estar ao seu lado, independentemente de estar fisicamente ao seu lado ou não. Eu quero ler seus textos, como fiz recentemente e poder repetir mil vezes: É minha irmã. Sentido muito orgulho, não por você ser minha irmã, mas por eu ser a sua.

Eu quero poder sempre te chamar de Pequena, mesmo sabendo que isso só quer dizer que você sempre será minha irmã mais nova e não falando da grande pessoa que você está se tornando.

Eu te amo, Pequena.

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Uma carta sincera, à pequena grande menina que desde seus 11 anos e hoje aos seus 17, me enxerga como sua irmã mais velha, mesmo não compartilhando o mesmo sangue, os meus pais, o mesmo lar, apenas o mesmo coração. Obrigada Thati, por me deixar fazer parte da sua vida completando sua família.

domingo, 6 de junho de 2010

Há motivos?

"E eu vejo nos seus olhos
uma paz interior
quando você sorri"
Então Vai - Scracho

Ela nunca soube dizer ao certo o que fez nascer tudo aquilo. Se dissesse, "O sorriso", estaria mentindo. Não somente ele. Talvez "Os olhos", mas ainda assim seria injusto com todo o resto que também foi culpado por seus pensamentos. Por seus sentimentos.

O sorriso trouxe a sinceridade. Foi assim que ela o descreveu desde o ínicio... "Vejo sinceridade, é de verdade o sorriso que ele oferece às pessoas". A sinceridade trasparecida ali sempre foi acompanhada pelo brilho no olhar. Não o brilho nos olhos dela ao vê-lo, mas a chance de registrar o brilho dos olhos dele. E poder lhe dizer isso. "Seus olhos brilham muito". Ela sendo capaz de superar a timidez e lhe dizer isso olho no olho. Brilho no olhar com brilho no olhar.

A mordida na boca. Igual a dela. A mania que ela tem de, distraidamente, morder o lábio inferior enquanto se concentra em algo. Ele fazendo igual. Substituindo seu sorriso pela mania dela, pela mania comum deles.

Mas até ela, sendo conhecedora de seus sentimentos, princípios, se sentiria mal por dizer que foi isso. Um sorriso. Um brilho no olhar. Seu braço. Suas costas. Sua barba. Se sentiria mal se enxergasse apenas isso. Mas não, sempre foi mais.

A graça. Seja se mexendo sem parar, fazendo qualquer um que pare para o "assistir" por 2 minutos rir. Sorrir. Isso. A capacidade de fazê-la sorrir. O sorriso besta que vai de uma orelha à outra, assim como sempre é o dele. O sorriso das "covinhas". O dele, não o dela.

A despreocupação com opiniões dos que não o conhecem, que julgam sem saber, sem tentar entender. A decisão de viver o momento. A seriedade. Responsabilidade com jeito de menino, a forma de receber os novos, de saudar os antigos.

A vontade que ele cria nela, mesmo de longe, de estar perto de novo.