segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É minha culpa

É minha culpa.

Se a criança pedindo dinheiro no farol não tem o que comer hoje, a culpa é minha. Se pela rua existem papéis jogados pelo chão, em todo lugar, a culpa é minha. Se o prefeito eleito em minha cidade é, na verdade, mais um ladrão, a culpa é minha. Se um deficiente moral estaciona na vaga de deficiente físico, a culpa é minha.

Minha culpa, minha máxima culpa.

Fui eu quem não entregou um lanche a criança. Eu quem viu a pessoa ao lado jogar o papel no chão e se omitiu. Eu quem não lutou por um resultado melhor na eleição, ou por nova eleição com novos candidatos, não custava tentar. Fui eu quem não fez o bípede de saúde física em perfeito estado estacionar em outra vaga.

Fui eu quem não reclamou quando a senhora entrou no trem e aqueles que estavam em seu lugar de direito fingiram que não perceberam. Até que alguém, sentando em um assento marrom, dispôs seu lugar. Foi quando os que se encontravam no assento cinza fizeram cara de surpresa, fingindo não ter se dado conta da presença da senhora até então.

Fui eu quem viu pessoas passando na frente da gestante no caixa do supermercado, não fui eu quem ergueu a voz por seu direito.

Eu que não doei roupas no inverno, nem brinquedos no dia das crianças e no natal.

Eu que não fiz muito no pouco. Eu que não fiz o mínimo. Sem lanche, sem direito, sem atitude, sem voz. Repasso o que me foi dito por meu pai, “Indignação sem ação é indigno”. É minha culpa, minha máxima culpa.

Enquanto não houver luta, não houver atitude, não houver voz, não houver ação, vindo de mim, a culpa é minha. Minha culpa, minha máxima culpa.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Talvez eu seja

Recentemente perguntei ao meu pai, que é escritor, como ele reage quando uma pessoa se mostra encantada por algo que ele escreveu, cheia de elogios. Ele me respondeu, "Com vergonha", e riu. Só isso já fez com que eu me sentisse melhor, afinal, essa é a exata reação que tenho quando alguém decide elogiar algo escrito por mim.

Comentei com ele sobre uma determinada pessoa e os comentários tecidos por ela a respeito daquilo que escrevo, como escrevo. Foi então que ele me disse, sério: "Você é o Antonio Prata dele". E quem sorriu dessa vez fui eu.

Antonio Prata é, como sempre faço questão de dizer, o motivo pelo qual eu escrevo hoje. Foi quando comecei a ler suas crônicas, ainda na Revista Capricho, anos atrás, que comecei a escrever.

Talvez eu não inspire a pessoa que citei a tal ponto, talvez não a inspire de forma alguma, mas ainda assim tenho influência sobre a vida dela a partir do momento que ela decide ler o que eu escrevo. Mesmo que eu não consiga imaginar que alguém olhe para mim como eu olho para o Antonio, para o Nicholas Sparks, como sei que muitas pessoas olham para a Tati Bernardi ou qualquer outra pessoa cheia de talento. Como eu mesma olho para o Chico Buarque e seu talento para a música.

Mas, talvez, eu seja mesmo o "Antonio Prata" dessa pessoa, de outro alguém ou ainda tenha a chance de ser. E só esse "talvez" já me faz feliz, mesmo que eu possa ficar sempre no "talvez", mesmo que o "talvez" seja, na verdade, eu não ser. A chance de ser, sim, já me vale.

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A "inspiração" veio cedo (cedo de ontem), mas só consegui escrever às 2 horas da manhã (cedo de hoje).
E se comecei a escrever sobre isso por conta de um comentário doce sobre como escrevo, aproveito para fazer um agradecimento ao Antonio Prata que hoje, dia 24 de agosto, completa 33 anos e desde seus 20 e uns faz parte da minha vida.
Obrigada por me "ensinar" a escrever ou, melhor, por ter plantado em mim, com suas palavras, a necessidade incontrolável de escrever.

sábado, 21 de agosto de 2010

Un-heart it very much!



"Hate is a strong word,
but I really, really, really,
don't like you".
Hate (I really don't like you) - PWT's

Odeio o trânsito de São Paulo e o barulho que ele causa dentro e fora da minha cabeça. Odeio meu fone de ouvido que não me impede 100% de ouvir esse barulho todo. Odeio motoqueiros que não só costuram em meio aos carros, mas levam retrovisores juntos sem dar a menor importância.

Odeio menininhas fáceis que se jogam para cima de caras legais, que em meio a tantas menininhas facéis deixam de ser tão legais assim. Odeio a idéia de sentar na calçada, numa mesa de boteco em meio a poluição, barulho e trânsito apenas para tomar uma "breja". Odeio salto alto e roupa colada para sair com homens que se vestem como maloqueiros de calças largas que cabem dois deles ali dentro. Odeio roupas caras para manter as aparências, odeio gírias e trejeitos para se encaixar.

Odeio música ruim na tv, no rádio, ao invés de Chico Buarque e todo resto que há de bom para se ouvir. Odeio mulheres semi-nuas (peladas!) na tv no domingo à tarde, ou em qualquer outro horário.

Odeio que me chamem de amor, não, não sou seu amor, sou sua amiga, sua conhecida, sua qualquer-outra-coisa-que-não-amor. Odeio que não entendam o que é o amor. Odeio pessoas que não sabem ficar sozinhas.

Odeio pessoas iguais, roupas iguais, vidas iguais, atitudes iguais, vidas vazias iguais. Odeio padronização. Odeio falta de discernimento, falta de coragem, falta de vontade própria, falta de dizer o que pensam, falta pensar sozinho.

Odeio esse mundo mesquinho. Odeio odiar tanta coisa, mas é o que existe, igualdade vazia, cabeça vazia, carteira cheia, sorriso cheio e coração vazio.