terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Novo Lar

No natal de 2009 meu presente para minha avó paterna (e, (in)felizmente, a única que tenho) foi um quebra-cabeça de 1000 peças com uma imagem da Torre Eifel. Já que montar quebra-cabeças sempre pareceu loucura, seja pelas imagens que não facilitam ou pelas milhares de peças, eu achei na idéia de dá-lo de presente um motivo para tornar a montagem sensata.


Meus planos para o natal de 2010 incluíam um quebra-cabeça de 1500 peças para o meu avô paterno. Em junho comprei o quebra-cabeça e passei a montá-lo calmamente, sabendo que dezembro estava longe e que me sobrava tempo para terminá-lo, moldurá-lo e dá-lo de presente.

Com o tempo a imagem foi se tornando mais difícil e meus esforços para completá-lo mais raros. Cheguei ao mês de dezembro faltando cerca de um 1/3 para terminar. No dia 11 de dezembro, meu avô, que estava internado em um hospital há algumas semanas, sofreu uma parada cardíaca e foi redirecionado para a UTI onde já havia passado alguns dias anteriormente.

Durante dois anos, aproximadamente, meu avô morou em uma Clínica para idosos, sua idade avançada (quase 83) e a doença de Parkinson, faziam com que seus cuidados fossem muitos, precisando de atenção diária e constante. Nas visitas que o fiz fiquei triste ao vê-lo ali, porque gostaria de poder tê-lo por perto, cuidar dele, como sei que toda minha família sentia. "Ao passar algumas horas aqui fico incomodada, enquanto ele passa o dia todo, todos os dias, aqui. Nossas visitas são as boas horas do dia dele, isso faz valer a pena", era o que me fazia passar por cima do mal-estar e ir até lá por ele.

Quando ele foi internado eu me vi completamente incapaz de ir ao hospital vê-lo. Eu o via na clínica, na cadeira de rodas, mas bem, conversando, cantando suas músicas antigas e novas, as quais não escrevia nunca, mas sempre lembrava para cantar para nós quando íamos visitá-lo. Ir ao hospital era sinônimo de vê-lo mal, cheio de aparelhos a sua volta e cuidados muito maiores do que os de antes. Me senti egoísta, mas sabia que vê-lo ali me faria um mal insuportável.

No dia 11 de dezembro eu fui ao hospital. Eu vi meu "velhinho", como eu o chamava, estava na UTI, entubado, inconsciente. Inconsciente não, dormindo, porque sei que ele teve consciência do meu choro alto por ele. Sei que sentiu meu último carinho em seus cabelos brancos. Ele morreu menos de uma hora depois de meu pai ter me mandado para casa.

Eu terminei o quebra-cabeça no último dia 6. Confesso que chorava enquanto encaixava as últimas pessoas, sozinha em casa, sofrendo por saber que ele nunca teve a chance de saber todo o tempo que eu gastei me dedicando a fazer algo para ele. Quando coloquei a última peça, duas e meia da manhã, fiquei olhando aquela imagem e pensando. Pensando.

Pensei: Isso é lindo demais! Todo esse azul, esse castelo maravilhoso. Tão lindo. Parece o céu. É isso, é o ceu, esse castelo é a casa de Deus, esse castelo é onde meu avô mora agora, em um lugar lindo assim.


O quadro vai ficar pendurado na sala da minha casa, o presente que era de mim para ele, virou dele para mim. Meu medo de olhar para ele e sofrer, passou. É uma lembrança constante de que foi melhor assim, de que ele está em um lugar lindo, muito melhor.

Obrigada, vovô. Obrigada porque todo dia 5 de março eu era seu presente de aniversário, do dia 6. Sua única neta, "a menina mais bonita" que você disse ter visto na vida, mesmo que nunca tenha sido verdade, eu sempre amei ouvir isso de você, desde criança. Obrigada pelo jeito com as palavras que você passou ao meu pai e dele para mim. Obrigada, velhinho, por ter me amado e por ter me deixado te amar.

7 comentários:

  1. E você falou que não seria triste...
    Se bem que no final eu não consigo ficar triste com a morte, é o inevitável, afinal. O que é triste é continuar sozinho, sem aquela pessoa.
    Já te falei o que penso: que enquanto a pessoa vive em nossos corações, ela não morreu. Ninguém morre. Enfim, cada um de nós lida como pode. Fico feliz que você tenha ficado bem.
    Lindo post.

    ResponderExcluir
  2. Becka, certeza que seu avo tá num lugar lindo :) e com certeza ele sabe de tudo que vc escreveu.
    Lindo o post! to emocionada de verdade!

    ResponderExcluir
  3. Lindo texto, Becka!

    A morte sempre é triste, a maneira de encarar é sempre difícil, mas transformar isso em aprendizado e guardar as coisas boas, é para poucos... e pelo jeito vc faz isso!

    beijão

    ResponderExcluir
  4. Lindissimo texto,
    eu só tenho a dizer que sinto muito, mas saiba
    que seu "velhinho" está num local muito bonito, sempre olhando pra você com amor. E eu sei que ele ficou muito orgulhoso do presente, e que ficou muito muito feliz por você ter terminado, esse quebrada cabeça agora é a simbolização do amor.
    beijos.

    ResponderExcluir
  5. É nessa hora que eu páro de chorar e fico feliz por você está bem, não é?

    ;*

    ResponderExcluir
  6. E ele está lá em cima pensando: como minha neta é linda!

    =)

    ResponderExcluir
  7. tocante seu ´depoimento´

    seu avô com certeza esta feliz com vc por ter terminado esse quadro lindo agora . =D

    parabens ! e forças !

    ResponderExcluir